Senhor, peço-te silêncio!
Perdoa-me a contradição, pedi-te tantas vezes o dom da expressão...
Pedi-te uma boca sem bloqueio nem receio que se soubesse espressar...
Mas hoje, Senhor, peço-te o dom de saber calar.
Cala-me do fútil, do inútil, do intolerante, do arremesso, da falta de senso, do discurso arrogante...
Cala-me do jeito mordaz, que nem sempre é capaz de ter um bom efeito, de frases sem raciocínio que levem ao declínio do que sinto no peito...
Rejeito a palavra pretensiosa que de acutilante faz doer, rejeito ser voz que dói porque me mói e sofro por ver sofrer...
E me faz arrepender...
Quero abster-me da opinião como juizo de valor, quem sou eu para julgar? Sou apenas pecadora!
Por isso te peço Senhor, dá-me o dom de saber calar.
Que falem meus os olhos num olhar terno, os meus ouvidos escutem com submissão, as minhas mãos se estendam num gesto fraterno mas, a minha boca se abra com contenção...
Dulce Gomes
(Só entende o valor do silêncio, quem tem necessidade de calar para não ferir alguém.)